sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A domesticação das asas

                                A DOMESTICAÇÃO DAS ASAS

quando a chuva tocar a terra
as aves saberão despertar da agonia estival
os temperos rupestres hão-de exalar
os odores recomendados
pelos sete sábios da Grécia Antiga

aguardemos que as figueiras excêntricas,
antes do vicejar dos frutos apetecíveis,
descerrem por fim as alvas flores de lírio
e que nos seus ramos engatilhados
sejam proibidas aquelas cordas submissas
onde se penduram homens de pele baça
no temor de um futuro
açulado por cães proscritos e lazarentos

com o chão bêbado pela água baptismal
tu irás recuperar as asas sedentárias
para te aconchegarem
- é certo que contrariada-
na tepidez monótona do meu regaço,
o teu peito libertando um desditoso queixume

depois, ao fazermos um amor sereno
proibidas todas as pressas
vasculhamos as pregas recônditas dos nossos corpos
beijamo-nos nas salivas das bocas acossadas
e
de olhos cheios recusaremos os vendavais inúteis

hei-de ler-te então um parágrafo
daquela perpétua, serena  e leal afeição
tal como  a quero e conjecturo
(estou a pensar em Corin Tellado, porque não?)

é certo que tu, meu bem-amar,
desejavas tão-somente
consumir-te  nos versos desinquietos
da Natália insubmissa,
esses versos onde o amor fiel e perpétuo
por demasiado tacanho
não cabe

         in Poesia dos Objectos Inúteis (2014 - Novembro)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Enquanto navegávamos


               Enquanto Navegávamos

           O Centro Dramático de Viana mantendo a estratégia cultural de abertura à comunidade vianense, não só pegando em temáticas que dizem respeito às vivências da cidade como também incentivando a participação de actores amadores (os que amam o teatro, pois claro) levantou este “Enquanto Navegávamos”. O desafio não podia ser mais perigoso. Estamos a falar de um elenco que sendo apenas todo amador,- com  os riscos que o amadorismo pode trazer a terreiro - constituído por nove ex-operários calejados e duros que possivelmente nunca terão visto teatro em toda a sua vida. Foi então com esta “massa bruta” que se ergueu o espectáculo que resumidamente trata a vivência dos estaleiros desde as suas origens nos longínquos anos 50 até ao momento em que a empresa doridamente se afoga.
          Só que os encenadores (Ricardo Simões e Guillermo Tello) jogaram com todos os trunfos que tinham à sua disposição, dando, estrategicamente, um brilho maior à arquitectura do espectáculo no seu todo e não tanto às debitações dos actores. E esse trunfos passaram por 1) uma forte utilização dos adereços saídos da teia, (dois dos momentos mais belos resultaram daqui) 2) uma marcação de palco que explorava e bem as profundas de todo o espaço cénico - fazendo lembrar a imensidão dos estaleiros e até da própria “Coreia” (interessante expressão do calão operário referindo-se à distante guerra da Coreia), 3) a música de cantores que todos conhecemos e que fazem parte da nossa memória, 4) uma excelente arquitectura de luzes, delimitando espaços, momentos, emoções. A surpreendente cena final, a melhor de todas, resulta daqui, com o grupo simbolicamente a “afundar-se” até ao sub-palco 5) utilização do proscénio e entrada dos actores pela assistência 6) sequências de pura expressão corporal. 7) A marcha insistente,  repetida e longa (outro momento muito belo) para marcar o 25 de Abril, fugindo à estafadíssima Grândola que neste momento serve para tudo.  8) E nessa cena final evitando uma sequência panflaeária de punho no ar e mais Grândola.
  Só faltou na esteira do melhor teatro sul-americano uma canção final, quando os actores surgem para receber o  prémio sem preço: os aplausos acalorados do público, com repetidas chamadas ao palco.
           Gostei de tudo? Não. Houve momentos de uma certa monotonia, a dicção destes operários duros nem sempre foi a melhor, embora tenham partido muito pedra (é certo que já vi disto em alguns profissionais, portanto…). O quadro arrastado dos “adeuses” aos barcos saindo doca foi longo e monótono. Além de ver uns operários  com a cara escanhoada e lisa como mármore.
            Mas é um espectáculo digno e portentoso, que preenche a alma de quem gosta de teatro com momentos muito bons de pura beleza e alguma inquietação. 
 

 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ai Jesus, Jesus, que vem aí o raio do ébola!

                                          Ai, Jesus, Jesus, que vem aí o raio do ébola
 
 
          As notícias que as televisões fazem aterradoras dizem-nos que temos aí o ébola a bater-nos à porta. Há especialistas que nos garantem, para nosso sossego, que é muito difícil que a epidemia possa alastrar pela Europa e explicam-no tim-tim por tim-tim. Mas este sossego não faz audiências nem vende jornais. É preciso carregar nas cores da desgraça e nem Santo António (ou um outro santo qualquer) nos pode valer. Fizeram de uma enfermeira espanhola, a quem foi detectada o vírus, um acontecimento de passadeira vermelha e embora a dita senhora se tenha safado, eunatasiaram-lhe o pobre canídeo  que isto quando toca à desgraça e pô-la bem negra. Ainda quiseram entrevistar o pobre do animal mas já o tinham despachado e enfiado num buraco com doios metros de fundo.
 
         Este terror absurdo já foi assim com a gripe das galinhas, a doença das vacas endoidecidas, os pepinos que se julgava que matavam que se fartavam e mais recentemente um tal virus A (não estou seguro da designação) que vinha aí para dizimar meio mundo. Esperava-se uma mortandade que faria inveja à peste negra. Nada aconteceu de significativo.
 
       Temos aí o ébola, insistem as televisões  a espelahar o terror e perspectivam o pior dos cenários que até já envolve os futebolistas africanos a jogar na Europa. De facto trememos com o que vem dos pretos, os africanos, claro. Mas ninguém quer saber que na África da nossa tristeza se morre à fome e à sede, que  ela seja pasto para ditadores com uma pedra no coração, que sofra o esgotamento dos seus preciosos recursos naturais que vão alimentar a ganância dos ricos e dos poderosos, que as meninas tenham filhos aos doze anos e milhões sejam vítimas dessa tradição canalha que é excisão genital, que a mortalidade infantil registe os números dramáticos da nossa Idade Média, que a esperança de vida não passe de um sopro fugaz, que a população de alguns países revele o aumento imparável da sida e da tuberculose, que não haja escolas, nem hospitais, nem saneamento básico é água potável, nem uma imprensa livre e digna.
      O que nos preocupa é o raio dessa doença que vem dos pretos. Quanto ao resto, saúde e bichas.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Primeira Notícia para a MÃE

                                                                               Mãe, cheira a Natal?
      


        Agora que estamos à beira do Natal, recordo a minha infância limpa de consumismos e afogos de prendas. O Natal era a família, todos reunidos á volta da mesa, a retemperar e refazer amisades.
Quero dizer-lhe que cá em baixo continuaria tudo na mesma se as pessoas não se afogassem no rodopio das compras. Deixe-se estar onde está, nessa galáxia resplandecente.
    Sei que tem muitas saudades nossas, mas quem não tem?
     Do seu filho
     Orlando

terça-feira, 15 de julho de 2014

futuramente, Judite

                                                  futuramente, Judite

                                                                                    (a todas as mães que o são, apesar de)

                                      a zoeira da morte
                                      alberga-se na alma perplexa
                                      atordoa, suprime
                                
                           atolados corpo e alma num poço de vermes
                           anuncia-se o fim da viagem
                                     
                           futuramente, Judite,
                                      não mais a ambrósia filial
                                      o teu corpo sem o corpo 
                                      o ingrato Julho dos demónios
                                      a dar-te a beber o fel da vida
                                                  
 
                            a morte,
                            essa morte que a todos chama
                                                            (em chama)
                            é isto mesmo,
                            uma emboscada  fatal e fortuita.

sábado, 12 de julho de 2014

A MÃE DE FREI BARTOLOMEU E A COPA NO BRASIL (II)

                             A MÃE DE FREI BARTOLOMEU E A COPA NO BRASIL (II)

                  Hoje de manhã, bem cedo, à hora da chegada da musical padeira (traz o rádio em ondas sonoras) e do desempenho coral dos melros, compareci mais uma vez perante a minha personagem: Maria Correia, a mãe de Frei Bartolomeu dos Mártires. Hoje tenho a opção bem definida, já sei como vou estabelecer os seus traços psicológicos principais. Já tinha decidido que ela não poderia ser uma mãe convencional e vulgar, tinha que ter um traço distintivo e único.
          Ando às voltas com estas considerações: frei Bartolomeu viveu uma vida modestíssima de ensino, oração e pregação, refugiando-se na sua cela de monge. Pode-se dizer que do mundo não conhecia nada tanto quanto é dado a um clérigo. Ao ser indigitado para Braga com 44 anos,  e assumindo a sua direcção mostrou seu um homem decidido, antes quebrar que torcer, disposto a trazer para a sua diocese as ideias modestas e espartanas que caracterizavam a Ordem dos Beneditinos. Como foi possível que ele tivesse levado a sua avante com enorme sucesso, lutando contra oposições pétreas que vinham do próprio cabido de Braga? Só podia ser pela educação que teve ou ter herdado esses traços distintivos.
         Isto tornou-se claro para mim quando ontem ia assistindo ao jogo entre o Brasil (detesto a expressão "irmãos brasileiros") e a Alemanha. Já disse que é a ver futebol, sem nele estar empenhado a 100%, que me considero um grande escritor e me ocorrem as frases e os melhores desenvolvimentos para prosseguir a narrativa que trago entre os dedos escreventes.
     Tomo nota do que diz o comentador Pedro Henriques, usando de uma semântica futebolesca riquíssima e sem igual:
                                         
                          Trata-se de um atropelamento sem fuga
                          A lesão de Neymar escurece a alegria dos brasileiros
                          Se a Alemanha volta a ligar o motor, o Brasil desfaz-se

      As câmaras voyeuristas focam o descalabro nas bancadas. Crianças choram, elas que deviam ser poupadas a este fanatismo obsceno, choram as mulheres de rostos pintados com as cores brasileiras, pinturas que se desmancham e borram como as do palhaço triste. Se Deus é brasileiro, não o mostrou ser. Não haverá pinturas à prova de lágrimas?
     Porque gosto de mulheres fortes, a Maria Correia do meu original terá as ganas germânicas, o punhal nos dentes da determinação, a força de uma formação panzer. Não a quero chorona.
                                                                                                               
                       Alemanha está sentada num  trono de sete golos
                       O que estamos  a assitir é a um terramoto que abala 200 milhões de brasileiros

       O Pedro Henriques lá sabe.



sexta-feira, 11 de julho de 2014

MATER IRACUNDA (um dia temerás a sua ira)

                                                        MATER IRACUNDA
                                                                               
                                                                                        (um dia temerás a sua ira)
   

             que sabes tu da chuva?
         diz-me, que sabes tu?
         tão apenas os aforismos desdenhosos
                    a coisa barata disponível ao preço da dita
                    a nomeada molha-tolos
                    a tal donde bem podes tirar o cavalinho


         que sabes tu da chuva?
         diz-me, que sabes tu?
         quando muito a adjectivação gratuita,
               em -in começada
               in suportável,
               in cómoda,
               in fernizante,
               in possível

                           (da chuva só sabes a menor parte)                           
               se ela um dia emigrar 
               recolhida nas asas uma frágil lavandisca 
               chorarás em vão a sua ira
               que fez calar a fonte dos poetas

               nem uma gota, uma única e escassa gota
               para molhar a tua garganta opaca
               apenas as lágrimas que te inundam o rosto
                          (bebe dessas, bebe, pois mais nada te resta
                          para enganar as fissuras da sêde)
              
                nesse dia,
                embaraçado por espantos
                                            (a velha chuva dos bons tempos que é                                                                                  feito dela?)
                lamentarás a sua ira
                e perceberás que é tarde.
                                 inexoravelmente tarde
    


terça-feira, 8 de julho de 2014

A Mãe de Frei Bartolomeu e a Copa no Brasil (I)

          A mãe de Frei Bartolomeu e a Copa no Brasil (I)

              Como todos os dias, neste último mês, acordo a pensar como tenho que prosseguir, não sei muito bem como.  Estou-me a referir ao original que se me agarra aos dedos. É com eles ao computador que me estruturo melhor. À minha fábrica criativa onde laboram incessantemente os meus neurónios operários, deu-lhe para se virar para a figura de Frei Bartolomeu e sobre ele efabular uma tetralogia.
             Estou de volta, às voltas, com o segundo original que tem como protagonista Maria Correia, sua mãe. As minhas dúvidas prendem-se com o seu carácter, sabendo como uma mater -qualquer mater - tem um peso tão importante na mentalidade dos filhos. Que faço com a senhora?
            Curiosamente é a ver futebol que as melhores ideias me ocorrem, e é nesta atitude passiva de mero espectador que me considero um grande escritor. Ali redijo num bloco de notas que nunca me abandona, as frases que me soam como exemplares. Vou ouvindo os sábios comentários do Freitas Lobo e há tiradas que me deslumbram quando descontextualizadas:
                                           
                                                         Ganhou o duelo no ar
                                                         Os alemães estão claramente por cima
                                                         Este golo é a picada da abelha
           
            Uma coisa é sentir-me habitado por fantasias e frases que alimentam os meus neurónios operários, a outra é ir para a frente do computador e disciplinar os dedos escreventes em sequências legíveis e atractivas mas que não caiam na banalidade e no esperado. A escrita não pode ser moralista, a escrita é uma linha no horizonte que se morde a si mesma e se recria a todo o momento, quantas vezes de uma maneira penosa. A escrita é a minha vida secreta, íntima, que alimenta-me a agorafobia de que padeço. Inexoravelmente.
               Bom, o que faço então com o  temperamento de Maria Correia? Tenho que fugir aos esterotipos, evitar o que outros, muitos outros, já escreveram. Não tem graça. Repito a pergunta: era muito bondosa e paciente com o filho Bartolomeu? Não. Tenho que lhe encontrar algo de sui generis, identificativo e único, para a tornar romanescamente interessante.
           Freitas Lobo a falar:
                                                 Os alas franceses desapareceram
                                                 Isto sim é a beleza do futebol, acima disto apenas o céu
                                                 É o Matudi que está a levar a França às costas
 
        Todos os dias (gozo desta mordomia em desconhecer Domingos e feriados) me apresento à história. São sete da manhã - são sempre sete da manhã -  chove, apesar disso os melros cantantes afadigam-se no seu gorjeio de engate. Sei bem que o que escrevo é provisório, bem longe para já das frases definitivas. O texto tem que se afastar do previsível. Uma mãe bondosa e paciente? Claro que não. Então o quê? Irresponsável, má como as cobras, azeda e vingativa? Não, isso também não.
              Nesta tarefa de dedos escreventes há frases que explodem dentro de mim como picada da abelha. Essas ficam por cima, não as carrego mais às costas. Aliviam-me a pressão.
 
                                            A primeira zona de pressão é fundamental
 
       Ele, o Freitas Lobo, lá sabe.
 
                                          

sexta-feira, 4 de julho de 2014

MATER MIRABILIS (para um jovem agricultor que morreu sob o tractor)

                                                  MATER MIRABILIS
                                            

                                                       [para o jovem agricultor Manuel Cabadas que morreu sob o tractor
                                                         na aldeia de Mansores (Arouca)]

                      

               da morte do meu filho não falarei
               nem deste silêncio que me protege
                                                                   como bivalve.
              só eu, um eu desvalido,
              pude usufruir do seu amor fecundo
                                            (quero-te longe das luzes inclementes)
                                                                      
              morreste
              soterrado em juventude
              tu que devias ter sido
              e nem esperaste para ser.
              Foste quase.
              
              A morte, a impúdica morte,
              solícita em seus cuidados intensivos,
              solicita-te.
              Solicitou-te.
              Morreste, filho, estás morrido,
              mas não morto
                              porque veio a chuva,
                                             mater mirabilis,
                              e os sonhos voltaram a ser
                              o que sempre foram:
                                             húmus e semente

quarta-feira, 2 de julho de 2014

MATER DULCISSIMA (para as mães que)

                                           MATER DULCISSIMA (Para as mães que)



               Lá onde vos achais, minha Senhor,
           nesse imperscrutável reino de transparência
                                            - mas porque abalastes tão sem aviso?-
           evitai prantear de saudade
           por este aqui que longamente paristes,
           longamente, ai, longamente,
           encharcada por suores e dores absolutas que tanto

               Escutai, minha Senhor,
               em breve
                                     - ah, tempo ociosíssimo em seu despacho!-
               me ireis acolher em regaço vosso
               refazer o sussurro dos afagos antigos
               e os carinhos maternais que


           Oh! seremos de novo,
           Mater Dulcissima,
           tão felizes como

quinta-feira, 26 de junho de 2014

MATER FECUNDA

                                                            MATER FECUNDA


                                     estou-te grato, clara chuva,
                                     por seres uma lágrima túrgida
                                     imersa num milhão de lágrimas
                                     (trans)lúcidas, irrepreensíveis

                                      avessa às levianas designações dos homens,
                                      fazes o que se te impõe fazer
                                      (cognominam-te de mau tempo,
                                      mas os outros, sim, os outros,
                                       que sabem  de ti?)

                                      tombas sobre nós, em nós,
                                      simples e desprendida
                                      frutificando o chão engenhosamente
                                      
                                      vede, homens urbanos,
                                      como ela
                                      faz rejubilar os cedros dos campos-santos
                                      e gerar flores inesperadas na invernia
                                  
                                      vede, vede,
                                      a sua determinação,
                                      ao negar-se aos vossos caprichos

                                      por ti sei da cor da vida
                                      da respiração dos sapos humildes
                                      por ti sei que o solo das nossas raízes
                                      jamais será um mar seco
                                      coalhado de destroços
                                      tão inúteis como esquecidos

                                     vem, vem, clara chuva
                                     e fecunda (-nos)

terça-feira, 24 de junho de 2014

mater miraculosa

                                                            

                         mater miraculosa


                               Ganham peso, escurecem
                               as nuvens grávidas de assombro líquido.
                               Esta é a chuva incorrigivel,
                               refractária às regras voluveis dos homens.
                               Tombas na Terra, nas terras,
                                para cumprir a promessa ad hominem  
                                (eu bem ta escutei)
                                que jamais envelhecerás.
                                Cais líquida e lustral,
                                e nesse diálogo com os pássaros, 
                                sorriem-te as seivas vitais.
            ´
                                De ti, mater miraculosa,
                                não escarnecerei os régios decretos
                                nem as disposições conciliares dos deuses.
         
                                Vede como sou feliz à hora em que te recebo
                                e de ti (em ti) me embebo / embebedo

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Caxinas 0 - Baviera 4 (ai meu Deus!)

               
                                                      
          Campeonato Mundial
        da Pinchona no Pé
      

           Caxinas 0 - Baviera 4

       Pois foi isso mesmo, quatro vezes a pinchona a entrar na baliza dos lusos, os nossos às aranhas, aos papéis, o madeirense Nuno`Álvares Pereira estupefacto,´ isto é Aljubarrota virada ao contrário, é o 25 de Abril em que o Salgueiro Maia regressa a penates, o Otelo dá à sola, a Grândola Vila Morena entra no index pidesco: "Se quereis música contentem-se com o fado e o Quim Barreiros"
      Mas quem nos derrotou no Brasil não foram onze alemães  chutadores da bola. Os algozes da nossa frustração chamam-se Beethoven e Shumann, Shiller e Gunther Grass, Karl Orf e dr Faust, as Valquírias e Erich Maria Remark, Bertold Brecht e Pina Bausch,essa Ângela que veio do leste (credo, como ela veste tão mal!) e o Deutsche Bank, a pontualidade e o rigor, o respeito pelo trabalho e o sentido de cidadania; até essa porra chamada "Mein Kampf".
       Por nós tínhamos muito pouco. Um dos nossos  maiores escritores, o cagãozito do Eça, dava nas orelhas da nação sem dó nem piedade; o Saramago casou com uma espanhola (uma parte da sua nomeação para Nobel deve-se a ela e à poderosa editora para quem trabalhava),pirou-se para as Galápagos da Europa, cansado de aturar uns governantes censórios da Idade da Pedra.
     Por nós tínhamos o fado, o de Lisboa e o da cidade chamada curiosamente "dos doutores"; o BPN e o(s) Duarte(s) Lima(s); o ai meu Deus!ai meu Deus!; a lamúria,;a senhora de Fátima;os ais, sempre os ais; a dificuldade em assumir qualquer culpa ou responsabilidade; essa coisa chamada "saudade" (que nós temos a mania de ser só nossa); ai que nos acode? ;o vinho que nos alimentou durante muitos anos; as sopas de cavalo cansado,o bagacinho pela manhã a matar o bicho; a patanisca remediada; olha o gajo como está rico, o filho da puta!; ai, Mouraria!; trabalho? trabalho é para o preto!; a baldice e o desenrascanço, pobretes mas alegretes, a mão pedinchona estendida ao Euro, à pimenta da Índia, ao ouro do Brasil; a admiração bacoca por tudo o que é estrangeiro; quem não chora não mama.
            Levámos quatro secos da Alemanha? Olha que admiração.
 
 
 
 
 
 

domingo, 27 de abril de 2014

                                       O Meu 25 de abril (PARTE II) 


                                      Os Jovens não Estão para Manifes


           No dia 25 de Abril de 2014 fui assistindo esporadicamente às manifes que se iam realizando por Lisboa, com especial enfoque no que se passava no Carmo. (Manifes, tragédias sociais, homicídios colectivos, são um excelente prado onde as Tvs alimentam  os seus programas e noticiários voyeuristas.Vamos em frente) Vi gente exaltada, alegre, voluntariosa que se ia manifestando, empunhando bandeiras, cartazes, clamando palavras/frases de ordem. Foi quando me apercebi que naquela multidão os jovens e adultos jovens (- digamos, com menos de 20 anos)- contavam-se pelos dedos da mão direita. Isto para ser complacente.
         Curioso, quis confirmar objectivamente esta minha observação. Vai daí liguei para amigos com filhos/netos adolescentes, querendo saber aquela hora (meio-dia mais ou menos) onde se encontravam os seus descendentes.
         Este é o cômputo e mais que cômputo, é uma catástrofe:
          5 estavam na cama porque tinham passado a noite anterior numa discoteca
          3 andavam a fazer BTT na serra d'Arga
          3 andavam a surfar na praia da Mariana         
          2 (namorados) tinham ido para a Ribeira do Porto e ainda não tinham regressado
          3 estava no Skype (uma delas a falar com o namorado em Londres)
          2 estavam no facebook
          2 nos videojogos
          2 a ver filmes na televisão
          2 às compras no shopping
          1 (rapaz) na cozinha a preparar um almoço comemorativo para os pais que tinham ido à manif
          1 em casa a tomar conta do filho recem-nascido
          1 a ajudar o pai numa horta biológica
          1 a passear o cão
        Penso que esta amostra é significava. De facto, tenho que concluir que os jovens não estão para manifes pelo quem num alargamento temporal, daqui a vinte anos não haverá ninguém para comemorar o 25 de Abril. Talvez uns octogenários com boa memória e uma saúde de ferro. Céus!Valha-nos isso.



sábado, 26 de abril de 2014

                                                 O meu 25 de Abril (Parte 1)

O meu 25 de Abril foi gasto como de costume, nas horas do costume, fazendo as coisinhas do costume. Ainda vi na TVI uma pivot encartada de burra tropeçar no que estava a dizer e falar da Grândola Vila Moranga (!(, que logo emendou, graças ao Senhor.) Também vi muitas comemorações com um certo cheiro a bafio e desafio, demasiado saudosistas como se falássemos daquele bacano que há-se chegar numa manhã de nevoeiro para nos salvar. Admiro esta gente que vai para as manifes, de cravo, raiva e desencanto na mão. Eu não vou porque não posso e também porque, tanto quanto me lembro, nunca fui a uma única manif. São precisas? São. Fazem muito jeito às TVs que que lhes alimentam as reportagens? Fazem. Têm um cero sabor a raiva domesticada? Têm. Os governantes, sejam eles quem forem, levam-nas a sério? Não.
O meu 25 de Abril fi-lo à minha maneira, a única que melhor sei: escrevendo. Esta é minha lita anti. Anti o que quizerem. Porque se as palavras e as manifes são levadas pelos sete ventos, desejo que aquilo que eu e outros (principalmente os outros) escrevemos , perdurem e deixem um lastro de inquietação. Os bons livros não salvam ninguém, não fazem baixar a taxa de desemprego, nem os altos índices de corrupção, nem  rega-bofe de uma Assembleia da República e um governo que impõem cortes drásticos menos a eles mesmos. No meu queijo ninguém toca!
O meu 25 de Abril foi assim, deixando escrito algumas linhas de inquietação e lucidez. Os meus livros  (pricipalmnete dos outros) não vão salvar a humanidade mas pelo menos  que a sua leitura torne o leitor mais consciente, atento e crítico. E participativo (que não seja apenas em manifes).

sábado, 19 de abril de 2014

                                                          O Portugalzinho

Não queria Portugal assim, pobrezito, entristecito, labedor das suas feriditas, assustadito, soltando para os ar os seus aisitos.
Não queria Portugal assim, alienadozito, embaladito nos progamitas da TVzita, gentinha menorzinha feita famosita pela nossa alienaçãozita, pelo nosso futebolito, pelo Ronaldito madrilenozito, pelo fadito lisbpetita, pelo facebuquito.
Não queria Portugal assim, remordiditnho e ressaibiadinho, atirando para cima dos outros as suas próprias culpazinhas, no temorzito de que vacile o seu egozinho.
Não queria Portugal assim, carregado de saudadezinha e poetazinhos, ignorantezinho, lírico e misticizinho, mais crente na senhora de fatimazinha do que na sua vontadezinha nacional.

Estou no restaurante, chamo o empregado para pagar. Ele aproxima e sussurra:
- É a contazinha?
Confirmo com um sinal de cabeça.
- Quer faturinha?

segunda-feira, 14 de abril de 2014

                                           Senhora dona Esperança de Jesus (Picolina)

os meus dedos esceventes, numa aurora de luzes cristalinas, debruçaram-se sobre o papel desafiadoramente branco, e trataram de redímir e resgatar a senhora dona mais proscrita da cidade. ela, sim, achincalhada, paupérrima, ridicularizada, eliminada das convivências dignas da sociedade que se porta bem. os meus dedos escreventes, pela primeira vez, teceram frases no tear difícil da poesia e procuraram a inspiração numa velha messalina, velha, velha, esquálida. repito: proscrita. tentaram a sua redenção, repito. desejaram o seu resgate, repito. mas logo as vozes da moralidade suspeita atiçaram aquela senhora dona contra mim. percorre a cidade esta pobre senhora dona à minha procura, convencida que estou rico à sua custa e à custa do seu nome.
minha querida senhora dona, como podem fazer de ti um pobre joguete? como podem os ódios ressaibiados, camuflados também,  lambedores das feridas das suas frustrações, fazer de ti um pobre títere?
como se não bastasse teres sido explorada, humilhada, desfesnestrada, avilentada, ainda fazem de ti um fantoche manipulável.
hipocrisia será sempre hipocrisia seja ela dita em que língua for, habite ela que ser humano habitar
                                                    
                                                     Não me faças cumprimentos
                                                     deixa-te de hipocrisias
                                                     o alívio dos maus sentimentos 
                                                     não se faz com cortesias
                                                                                 António Aleixo

domingo, 13 de abril de 2014

                                             Escrever é a liberdade em extensão
Pelos dedos escreventes entro num território de experimentação, experimento o que nunca foi experimentado, faço caminhos que ninguém percorreu, dou vivo sabor às palavras. Os meus dedos escrevem -escrevem-me - e com eles invento as minhas próprias regras de criador. Escrevo um conto, um poema , um capítulo de um romance, uma cena de teatro, e através desses meus dedos escreventes dou a volta ao mundo.
Eu sou eu e os meus dedos escreventes. Por isso, enquanto criador e desafiador, abato regras porque recuso a imitação. Um criador também é para isso que serve: desfazer o que parece estar bem-feito, olhar para o outro lado das palavras, virá-las do avesso. E as pessoas que me lerem, que sofram também dessa transfiguração. O mundo plácido, xaroposo, é para aqueles que nunca se inquietam. Era desses que gostava o caudilho de Santa Comba. É desta matéria de que todos somos feitos. Salazar não foi obra do acaso, tal como a irmandade Passo/Portas. Há uma história nacional por detrás desta gente. Repito: a nossa portugalidade é feita de marasmos, manhas e ciganices.
Por isso, para mim, escrever é a liberdade em extensão.

sábado, 12 de abril de 2014

                                           D. Frei, o meu concentrado escrevente

Assim vivo e respiro numa espécie de redoma escrevente. Trago o arcebispo comigo, como já trouxe a dona Esperança de Jesus(Picolina). E o capitão Melquíades Sobral, um heroi feito de lealdades e coerências (que poucos vianenses conhecem,). E Branca Dias, uma heroina do quotidiano, mulher de multicoragens e multidesafios, a primeira mulher dona de um engenho de açúcar.
Escrevo o que tenho de escrever, escrevo o que se me impõe escrever. Escrever, sim, agilizar a mente escrevente através dos dedos disponíveis para a articulação que se exige: a escrevente.
O importante para mim não é tanto o que sei fazer de melhor mas escrever o que sei e como sei, saindo dos meus próprios limites. Dedos escreventes, façam o que vos impõe: escrever.
E como o Criador-dos-Escritos não deve conhecer limites, ele que escreva o que falta escrever. Aquilo que não está escrito, a omissão do escrito, é o que deve ser  escrito. Escrever o que os outros já escreveram não me parece que seja interessante.
Trago-te comigo, d. frei, não aquele que querem fazer de ti santo, mas o homem das audácias, o que desafiou as águas podres de um catolicismo de fachada, conservador e tramontano. Escrevo o que aos meus dedos escreventes se impõe: re-escrever d. frei, esse homem desassossegado e desassossegador. É com estes meus dedos escreventes que vou roubando dias à morte.

sábado, 29 de março de 2014

                                               as noites brancas de Branca Dias


Branca Dias (1515- 1585) foi uma mullher vianense que em meados do século XVI se  instalou em Camaragibe (Olinda-Recife). É uma heroina sem o que querer ser e que chega até nós envolta na história e na lenda.
Judia, depois de se condenada pela Inquisição, em Lisboa, embarca para o Brasil, levando consigo os seus sete filhos, onde já se encontrava o marido, outro vianense, Diogo Fernandes (fal. 1565). Haviam de lhe nascer mais quatro em Camaragibe.
Ela é a primeira mulher a praticar secretamente esnoga (os  ritos judaicos), funda uma escola laica para meninas onde ensinava artes domésticas (cozer, tecer, aforrar) e torna-se, por morte do marido, a primeira mulher dona de um engenho de açúcar. É talvez este papel de dona e matriarca que lhe dá maior relevo e que  fez chegar a sua fama até nós.
Na peça "As noites brancas de Branca Dias", toda acção gira à volta desta personagem poderosa, a luta que ela trava para manter a funcionar o seu engenho de açúcar -um dos mais produtivos de Camaragibe -, a fuga dos escravos negros, o perigo que correm num região dominada pelos índios tupinambás (antropófagos).
Porém aquela paz que ela tinha como garantida, a salvo das garras da inquisição, é quebrada com a chegada do Inquisidor-Mor, vindo de Lisboa.
As suas noites brancas, porque estreladas e luarentas, vão-se tonar num grande pesadelo.
O que se enaltece na peça é "o lado popular do heroismo quotidiano, exultante e aziago, miscigenador e dizimador, rapace dos primeiros colonos portugueses no Brasil" (Miguel Real)

segunda-feira, 24 de março de 2014

Prêmio Literário Cidade de Aragutu (Aracatu)

                              Prêmio Literário Cidade da Aragatu (Aracatu)



         Prêmio Literário Cidade de Aragutu (Aracutu)

 

(excerto da ata aprovada em reunião plenária do júri 3 de Março de 2014 e devidamente subscrita por seus  intervenientes)

O júri do Prêmio Literário Cidade de Aragutu (Aracutu) distinguiu o original “AS NOITES BRANCAS DE BRANCA DIAS” de Orlando Ferreira Barros – pseudônimo Francisco Edmeia – com o prêmio especial para a modalidade de texto dramático.

                        A decisão foi tomada por consenso.

            Motivos da premiação:

            O texto de Orlando Ferreira Barros (Portugal) revela um grande capacitamento dramático ao conseguir através dos dramas íntimos de cada personagem, desenvolver um retrato social objetivo e muito realista do Brasil colonial do século XVI.

A trama se vai desenvolvendo em vários patamares: os portugueses cuidando de sua sobrevivência, a escravização do negro africano e os trabalhos no engenho, a luta com as tribos autôctones (os tupinambás – antropôfagos) e a ainda a prática do judaísmo em terras brasileiras.

            Texto revelador de uma notável sensibilidade de mestria cênica, segue mantendo até ao fim muito suspense na ação que termina com o excelente monôlogo da protagonista, a portuguesa Branca Dias.

Juri

            José Cavalcanti Júnior (jornalista)
            Maria de Pádua Gonzalez (radialista)

            Wagner dos Santos-Santos (crítico literário)
            Crisóstomo Ruy Faria Carvalho (representante do júri) 

 

                        Cidade de Aragutu (Aracutu), 4 de Março , 2014

                                            

                   D. FREI, O ARCEBISPO SANTO

               Comemoram-se esta ano os 500 anos do nascimento de Frei Bartolomeu dos Mártires, Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas.
               É uma figura particularmente grata aos vianenses que o consideram um santo, tanto pela dedicação aos pobres, viúvas e órfãos vianenses, como por lhe serem atribuídos milagres, segundo a biografia escrita por Frei Luís de Sousa, alguns comprovados por várias testemunhas.
                 Não é tanto a figura de taumaturgo  que me atrai enquanto escritor mas sim o seu despojamento perante as mundanidades da vida e a sua dedicação aos deserdados da fortuna. Há na sua integridade e frontalidade que me atrai. Sempre se assumiu como pastor e em alguns dos seus escritos, que foram muitos, insurgia-se contra os luxos clericais que abundavam por essa cristandade fora.
         Assim, comprometi-me comigo mesmo, escrever uma tetralogia dramática centrada na figura de d. frei Bartolomeu naquilo que ele mais me atrai. A tetralogia terá o nome D. Frei, o Arcebispo Santo e será composta pelos seguintes originais:
        1º " Uma vida para lá dos outros" - que relata o último ano de vida do arcebispo, com flash-backs que nos vão remetendo para alguns acontecimentos do  seu passado.
        2º "A inoportuna perseverança" - centra-se na oposição feita pelos párocos e pelo próprio cabido de Braga, à vontade de d. Frei implementar os preceitos reformadores do concílio de Trento
        3º "Pergunto-vos, se valeu a pena" - É uma interrogação que atravessa toda peça. Perante o avanço e carecimento do luteranismo e depois do Calvinismo, d. Frei interroga-se, mas sem nunca duvidar do caminho que percorreu
        4º "As vozes pobres" - os lamentos, pedidos, afirmações que d. frei foi ouvindo ao longo da sua vida.
             A primeira peça está praticamente terminada, ficando nos próximos tempos em banho- maria. quanto às outras vou pedir a mão de d. frei para que eu possa ter saúde mental e vida para levar a cabo esta decisão.~
           Não deixa de ser curioso que sendo eu um agnóstico assumido e sem dúvidas me tenha apaixonado por esta figura de missionário, tão entregue à caridade e ao amor dos outros.
 
 
 
 
 

A cidade de Aragatu (Aracutu)

                                                     A Cidade de Aragatu (Aracutu)

                  A pequena cidade de Aragatu (Aracatu), situada a 300 quilómetros da Bahia de Todos os Santos, tem uma história interessantíssima. Até meados do século XIX, com a erradicação da escravatura, foi uma roça de grandes proporções, cujo dono era um tal coronel Machado, indivíduo feroz, desflorador das mocinhas negras  mestiças quando começavam a ganhar corpo de mulheres. Era um coronel como alguns que Jorge Amado desenhou nos seus remances. Mas este real e verdadeiro, ultrapasava em ferocidade os do romancista.
               Nesta roças com centenas e centenas de escravos era comum a sua fuga para o mato, procurando escapar à escravização bárbara. Por todo o Brasil isso acontecia, chegando estes escravos fugidos a formar aldeias bem escondidas no mato - os quilombos.
             Aquele coronel Machado sempre que capturava um escravo reincidente - um fujão - não o torturava no tronco, como era costume entre os senhores coloniais, mas prendia-os a uma árvore de grande porte, comum naquela zona chamada "garatueira". Na época abundavam animais carnívoros, nomeadamente onças. Era o trágico destino que espereva ao escravo preso à garatueira.
              A roça  dos Machados foi-se desenvolvendo, chamando a si serviços do Estado - correio, finanças, autocarro, hospital público, escola - até que princípios do século XX ganhou autonomia admistrativa com o nome de Argatu, inspirado na árvore abundante na região - agora bem menos.
       Mas como o nome evocava um passado de sangue, no tempo de Getúlio Vargas foi proposto outro nome, inspirado na língua tupi e que designa qualquer coisa como "ar puro".
           Há neste momento um forte movimento cívico para repor o nome original. A primeira designação, aprovada em reunião plenária da perfeitura, foi proposta à capital do Estado, aguardando-se que ela seja ratificada ainda no ano de 2014.
           Até que isso aconteça, o nome da cidadezinha vai oscilando entre aqueles dois topónimos, segundo o desejo de cada cidadão.