sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

deus ou Deus?

                                                                    












                                                                   
               Se me é relativamente fácil falar da grande divindade, a coisa fia mais fino se tenho que escrever. Levanta-se a dúvida incómoda: deus ou Deus?
              A minha educação e tradição familiar impõem que grafe a inicial com letra maiúscula.  Contudo a minha idiossincrasia formada na leitura dos autores racionalistas e o meu próprio racionalismo temperado na minha vontade de observar o mundo do lado do avesso, obrigam-me a escrever a inicial com minúscula. De facto, sou um agnóstico pouco convicto, quase a entrar no ateísmo.
                Mas a verdade é que continuo a escrever Deus e não deus. Reconheço que é um disparate em quem não tem fé. É melhor assim, não vá o diabo (ou DEUS) tecê-las.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O POETA NO FIM DA LINHA



                                                      O POETA NO FIM DA LINHA
                                                                              
                                                                (a partir de uma confidência do poeta António da Silva Melo)

                     Enquanto sua mãe o espera no fim da linha, deleita-se o poeta no silêncio da catacumba. Entre relâmpagos e seios de mulheres, as angústias  que o sufocam derramam-se no papel branco onde vão nascendo versos atrás de versos, semelhantes aos ventos que enrugam as almas e secam os rios.
             Enquanto sua mãe o espera no fim da linha, os seus versos torna-se cilícios ferindo a carne, e a carne deixando exangue. A morte anuncia-se em cada flagelação, e hoje os velhos enforcam-se  nas tardes outonais, os predadores de falas invencíveis atraem as crianças.   O sopro do medo exige novos funerais .   
         Sua mãe espera o poeta no fim da linha. É a única capaz de lhe dar a absolvição.